Resenha do Livro: 12 regras para a vida. Um antídoto para o caos



Jordan Peterson, psicólogo e escritor canadense conhecido mundialmente pela sua sensatez e por apresentar uma visão crítica e apurada nos mais diversos assuntos relacionados ao comportamento humano, escreveu em 2018 o best seller “12 regras para a vida: um antídoto para o caos”. Trata-se de um livro que tem como proposta apresentar de forma subjetiva e direta algumas regras a serem aplicadas pelos leitores em suas rotinas diárias, cujo objetivo é tornar a vida mais leve e minimizar o caos inerente ao dia a dia.
Antes de Jordan começar a falar sobre as regras, o livro é apresentado via prefácio por seu amigo (também escritor) Norman Doidge, que por sua vez explica como conheceu Jordan e qual a relação que tais regras exercem na rotina e os respectivos impactos positivos.

Regra nº1: Costas eretas, ombros para trás

O autor explica como a comunicação não verbal é importante e decisiva nas relações interpessoais. Ele expõe dados científicos sobre como esta prática ajuda a aumentar os níveis de hormônios relacionados à autoconfiança e como a pessoa é vista dentro de um determinado círculo social ao adotar esta prática. Ele ainda cita como exemplo as lagostas, pois quando competem entre si, a derrotada sempre mantém uma postura corporal curva e abatida, ao passo que a vencedora mantém as costas eretas e os ombros para trás com objetivo de sinalizar para as demais que é vitoriosa. Esta postura confere a ela um status social significativo e a torna referência para as outras lagostas.

Regra nº2: Cuide de si mesmo como cuidaria de alguém sob sua responsabilidade

Sem dúvidas, esta é a regra que norteia todas as outras. É comum negligenciarmos nossa saúde física e mental em prol dos prazeres de curto prazo ou simplesmente por não gostarmos de quem somos. Quando alguém está sob nossa responsabilidade, agimos de maneira razoável no que se refere à racionalidade, pois fazemos questão de assegurar o bem estar daquela pessoa, sempre com ponderação do que é importante e necessário para que ela tenha uma felicidade genuína. Já que fazemos isso pelos outros, por que não fazer isso a nós mesmos?

Regra nº3: Seja amigo de pessoas que queiram o melhor para você

Hoje em dia, ter amizades verdadeiras infelizmente tornou-se artigo de luxo. Vivemos em um mundo em que as relações superficiais imperam; como se isso não bastasse, as pessoas instalam uma competição voraz entre si, tentando mostrar superioridade em praticamente todos os assuntos. A problemática maior desta situação e que os falsos amigos fingem ser verdadeiros, e é aí que mora o perigo.
Felizmente o tempo nos torna capaz de identificar quem são as pessoas que querem o melhor para nós e, por isso, o autor sugere que devemos estreitar as relações com aqueles que querem nosso bem, mantendo sempre a reciprocidade.

 Regra nº4: Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra pessoa é hoje

Esta regra tem como objetivo eliminar de uma vez por todas a angústia e a frustração relacionada à observação do mundo à nossa volta. É evidente que só é possível descobrir se somos ou estamos felizes mediante comparação, pois para compreender o significado de felicidade é necessário saber o que é a infelicidade, e é óbvio que tal conceito varia de pessoa pra pessoa.
Por mais parecido que alguém possa ser com o outro, estes nunca serão iguais, essa é a graça de se viver em sociedade. Todo mundo possui planos e objetivos de vida; cada pessoa possui seus “porquês” e motivações distintas para lutar em prol de suas metas. Além disso, as experiências vividas dizem muito sobre cada um, por isso, a comparação com o outro não faz o menor sentido. Deve-se ter em mente que o maior concorrente que alguém pode ter é aquele que ela vê quando olha para o espelho.

Regra nº 5: Não deixe que seus filhos façam algo que faça você deixar de gostar deles

O excesso de proteção aos filhos é uma das principais causas para o surgimento de adultos inseguros e sem a mínima capacidade de resolver os problemas inerentes à vida pós-adolescência. Peterson propõe através desta regra uma educação pautada pelo bom senso e pelo preparo em lidar com as adversidades da vida. Isto só é possível quando os pais deixam de “passar a mão na cabeça” e instigam os filhos a encararem os problemas de frente e assumirem as consequências de seus atos.
Hoje em dia é comum observar pais se lamentando pelo que os filhos se tornaram, mas poucos têm a consciência de que esta é só a consequência pela educação equivocada que deram a eles.

Regra nº6: Deixe sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo

Esta regra se opõe completamente a uma realidade muito comum nos dias atuais. Está na moda fingir ser puritano e bancar o justiceiro social, como mostrar-se defensor de causas “esquecidas pela sociedade”, mas, no final das contas, tudo isso não passa de uma tentativa frustrada de varrer a sujeira para baixo do tapete.
É muito fácil criticar o mundo à sua volta, pois isto requer pouco ou nenhum esforço, como por exemplo, pessoas que se dizem se preocupar com crianças passando fome na África mas fingem que não veem quando o filho de um vizinho não tem nada para comer. Outro exemplo: pessoas que se dizem preocupar com a degradação do meio ambiente e com o desmatamento de florestas, mas jogam lixo na rua.
Esta regra é muito coesa ao afirmar que cada indivíduo é responsável pelo seu próprio universo particular e que só é possível contribuir para a mudança do mundo a partir do momento em que cada um se dispor a mudar o que  está em seu alcance, pois é isso que faz a diferença.

Regra nº7: Busque o que é significativo, não o que é conveniente

É natural que as pessoas busquem o que fácil e evitem ao máximo a dor. Esta atitude, aparentemente ingênua, é uma das principais causas de frustração e de arrependimento - no longo prazo –que as pessoas possuem e terão no decorrer da jornada existencial. É comum observá-las ceder a prazeres temporários em detrimento de uma dor temporária com recompensa futura, isso explica o porquê do aparecimento de tantas patologias de cunho psicológico tornarem-se tão frequentes no dia a dia, independente da faixa etária.
O autor é enfático ao dizer que toda conquista implica estar de coração aberto para “pagar o preço” daquilo que é verdadeiramente significativo. Neste contexto, abandonar a zona de conforto é fundamental para que se obtenha o que realmente vale a pena da vida.

Regra nº8: Diga a verdade. Ou, pelo menos, não minta

A mentira é usada, principalmente, para satisfazer o próprio ego ou para evitar conflitos com outras pessoas. Ela é na maioria das vezes uma fantasia elegante, luxuosa e atraente, mas não se deixe enganar pelas aparências. Como tudo na vida possui um preço, com a mentira não é diferente, porém, o preço é mais alto do que se imagina.
Esta regra propõe que o leitor abra mão de uma vez por todas da utopia causada pela mentira. A verdade, por mais que possa parecer cruel, é libertadora. A mentira escraviza e é totalmente insustentável no longo prazo. É impossível colher frutos de uma árvore que não existe, e esta analogia é aplicável quando alguém visa obter frutos desta árvore imaginária.

Regra nº9: Presuma que a pessoa com quem está conversando possa saber algo que você não saiba

Não é novidade que os seres humanos , por mais que possam aparentar ter características sociais, comportamentais e étnicas similares, são completamente diferentes em essência. Nesta jornada existencial repleta de ilimitadas descobertas, estamos o tempo todo vivenciando experiências, sejam elas negativas ou positivas. Ambas geram aprendizado.
Ao entrar em conexão com outra pessoa, independentemente de seu status social ou formação acadêmica, sempre haverá algo que ela possa nos acrescentar. Todo ser humano possui um universo particular com uma extensa bagagem existencial que nos permite aprender uns com outros. Ter a sensibilidade de enxergar nas entrelinhas o que o outro tem a oferecer como aprendizado é essencial.

Regra nº10: Seja preciso no que diz

É natural que algumas pessoas, principalmente as que têm algum problema emocional tenham dificuldade em expressar sentimentos. Em um mundo tão dinâmico como que vivemos, ter uma comunicação clara, objetiva e eficaz é essencial no que se refere às interações sociais, inclusive é um dos pré-requisitos na obtenção do sucesso naquilo que se almeja.
Esta regra propõe que haja uma mudança na forma de se comunicar de modo que exista congruência naquilo que se diz e no que se pratica.

Regra n°11: Não incomode as crianças quando estão andando de skate

Através de uma linguagem figurada e descontraída, esta regra propõe que não se deve interromper as pessoas que estão processo de autoconhecimento, ainda que o caminho seguido pareça estúpido ou sem sentido. O aprendizado empírico é essencial para moldar o caráter e construir características indispensáveis no indivíduo. Os erros têm a importante função de gerar aprendizado e, se não fosse por eles, não haveria evolução e valorização daquilo que se conquistou com muito sacrifício.

Regra n°12: Acaricie um gato ao encontrar um na rua

Apesar de todo sofrimento que esta existência inevitavelmente traz consigo, existem coisas boas a serem apreciadas, ainda que se esteja passando por um dia ruim. Os gatos são como as situações da vida, eles são independentes, às vezes poucos sociáveis e imprevisíveis. Ao contrário dos cães, não conseguimos fazer com que eles acatem ordens e sigam uma hierarquia pré-estipulada.
As pessoas são dotadas do livre arbítrio, mas isto não significa que tudo está sob controle, uma vez que estão sujeitos a lidar o tempo inteiro com situações alheias às nossas vontades. Ao deparar com um gato na rua podemos chamá-lo e acariciá-lo, ou simplesmente ignorá-lo. Se optarmos por brincar com o bichano, ele pode ser recíproco ou não. Apesar da possibilidade de negativa, não podemos nos privar de sentir o prazer de tentar brincar com esta criaturinha. Isto pode ser avaliado de modo literal ou no sentido metafórico.

Conclusões

Estas foram as 12 regras abordadas pelo autor. Em minha opinião, são extremamente pertinentes e possíveis de serem aplicadas no dia a dia. Vale ressaltar que, se o leitor tentar aplicá-las de uma vez, certamente não obterá sucesso e desistirá na primeira frustração. É necessário inserir uma a uma, bem aos poucos, até que elas façam parte do seu mindset.
Em resumo, este livro é recomendado a todos que buscam melhorar sua qualidade de vida. Ele não é a solução para todos os problemas, mas cumpre bem sua função ao se intitular como “um antídoto para o caos”, pois trás dicas valiosas para que o leitor lide de maneira sábia com as adversidades. Vale ressaltar que, este texto escrito por mim, não isenta os interessados  a lerem o livro completamente, uma vez que ele aborda de maneira detalhada e completa todas as regras propostas pelo autor. De fato é uma obra que vale a pena degustar suas mais de 300 páginas.

Texto autoral de Maycon de Souza

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