Mobilismo x Imobilismo: Quem tem razão, Heráclito ou Parmênides?

    Não restam dúvidas de que os filósofos pré-socráticos foram essenciais para que o pensamento crítico se tornasse um instrumento de resolução de problemas e construção das mais variadas formas de ciências. Heráclito e Parmênides, duas figuras aparentemente antagônicas, desbravaram o território do debate por intermédio de duas correntes de pensamento que, mais tarde, vieram a ser chamadas de mobilismo e imobilismo. 

    Como a própria nomenclatura sugere, o mobilismo de Heráclito defendia que a essência das coisas é a mudança, que tudo está o tempo todo passando por constantes transformações, ao passo que o imobilismo de Parmênides defendia que o estático era a única explicação plausível para as coisas, e que elas, por sua vez, são predestinadas a atenderem a uma demanda linear do universo.

Platão concordava em partes com o discurso de seus antecessores, porém, compreendia que havia algumas lacunas em ambos que deveriam ser analisadas. No discurso de Heráclito, ele não enxergava estabilidade e ordem, uma vez que havia a negação da possibilidade de conhecimento objetivo e duradouro devido a sua aparente relatividade. Em contrapartida, ele via uma inadequação no discurso de Parmênides quanto à sua negação da mudança e da multiplicidade no mundo sensível, o que impossibilitava explicar a complexidade da experiência humana e a realidade observável.

    Platão argumentou que a mudança e a multiplicidade observadas no mundo sensível são reais, mas refletem imperfeições das Formas. A busca pelo conhecimento verdadeiro envolve transcender o mundo sensível e contemplar as Formas, reconhecendo a dualidade entre o mundo das aparências e o mundo das realidades eternas. Assim, através da ótica platônica é possível compreender a complementariedade dos discursos e desconsiderar suas eventuais contradições. 

    Assim sendo, Platão entendia que, considerando as ressalvas acima citadas, tanto Heráclito quanto Parmênides ofereceram insights valiosos sobre a natureza das coisas. Por isso, a resolução dessa aparente contradição de discursos deve ser observada naquilo que Platão chamava de “Formas” (ou ideias), que podem ser compreendidas como entidades metafísicas eternas e imutáveis que constituíam a verdadeira realidade por trás das aparências sensíveis, nesse sentido, é possível observar uma inclinação de Platão ao discurso de Heráclito, embora reconhecesse uma contribuição de Parmênides como elementar para concluir sua linha de raciocínio.

Texto autoral de Maycon de Souza


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