A antítese do equilíbrio

 


          Viver em sociedade é o grande desafio da humanidade, afinal, cada indivíduo é dotado de personalidade própria e possui características e peculiaridades que os tornam distintos uns dos outros. Mesmo aqueles que são filhos dos mesmos pais e foram submetidos ao mesmo processo de educação, são diferentes, ainda que tenham nascidos gêmeos. Essa diversidade torna a vida mais interessante, pois se todos fossem iguais não haveria nada a ser aprendido, o problema é que nem todos estão dispostos a serem tolerantes com as diferenças, o que causa um mar de desconforto e acende a luz para uma discussão que é arrastada por milênios: a definição do bem e o mal.

          O significado para esses conceitos é amplo e complexo, pois para se tentar chegar em um consenso, antes é necessário entrar no mérito do que se entende por moral e ética. Estes, apesar de muitas vezes serem confundidos como sinônimos, são bem diferentes. A moral é um conjunto de comportamentos padronizados adotados por uma determinada cultura, tidos como desejáveis e esperados pelos que nela estão inseridos. A ética é um comportamento situacional baseado na lealdade entre os indivíduos, que tem como pilares o bom senso, empatia e respeito à liberdade própria e de outrem. Ambas são características complementares e exercem seus respectivos papéis de importância dentro da sociedade.

          Com base na definição acima, entende-se de modo genérico o “bem” como atitudes norteadas pela moral e ética de um indivíduo para com os outros, seja dentro do grupo em que estão inseridos ou fora dele, de maneira avulsa. Como pressuposto a isso, o mal é caracterizado como as atitudes opostas ao bem. Uma vez que há essa compreensão, será mesmo saudável essa dualidade no convívio coletivo?

         Partindo de uma premissa filosófica, desconsiderando totalmente as questões religiosas que permeiam esse tema, pode-se entender através de estudos comportamentais, históricos, empíricos ou pela simples observação de modo crítico das pessoas ao seu redor ou de si próprio, que é inegável a existência dessa dualidade em cada indivíduo. O bem e o mal são características intrínsecas à humanidade, e é impossível dissociar alguma delas da essência de alguém. Entendendo esse fato, é importante a busca pelo ponto de equilíbrio para que assim seja possível o convívio pacífico em sociedade.

Se o indivíduo é dual, ele pode escolher qual lado usar?

        As atitudes de cada pessoa são movidas por propósitos e/ou desejos. Agir em função de um propósito significa que suas ações estão norteadas por um objetivo que está enraizado nas profundezas do seu ser, que há uma relação íntima entre aquilo que se almeja com o seu Eu do futuro. Neste contexto, há uma conexão de longo prazo que faz você compreender que o seu propósito requer uma série de ações em diversas etapas para que ele, por fim, se conclua. De modo diferente, as atitudes movidas pelo desejo são mais imediatas e menos profundas. Elas tem a ver com o atendimento de necessidades momentâneas baseadas no prazer e na satisfação no curto prazo. Em ambos os casos, o meio utilizado em consonante a cada atitude pode estar atrelado ao bem e ao mal.

          Através dessa perspectiva, entende-se que tanto o bem como o mal são usados como meios para se atingir um fim, em outras palavras, são ferramentas utilizadas de modo consciente (ou não) que as pessoas manuseiam conforme conveniência do momento, podendo inclusive mesclar essas duas ferramentas para chegar aonde se deseja.

          É comum que muitos indivíduos alimentem aquele pensamento mágico de que a maioria das pessoas são puras, que não há nenhum resquício de maldade e que somente alguns poucos é que são maus. Este é um dos piores equívocos que alguém pode cometer, afinal, a dualidade é uma característica intrínseca do ser humano. A existência do mal dentro de alguém não faz necessariamente dela um carrasco. Compreender e aceitar que dentro de cada um existe o bem e o mal é fundamental para viver uma vida mais sábia e menos frustrante. Ter essas características não é o problema, o que está em jogo é qual desses lados você evidencia nas relações com teu semelhante.

Texto autoral de Maycon de Souza


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