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Mostrando postagens de junho, 2025

A farsa da autenticidade: o Marketing de ser você mesmo

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O mundo virou um grande balcão de autoajuda disfarçada de liberdade. Frases prontas, conselhos genéricos e gurus de internet repetindo o mantra mais batido da era da superficialidade: “Seja você mesmo.” Fácil falar, difícil explicar o que isso realmente significa. Mais difícil ainda é admitir que talvez você nem saiba quem é.  A verdade que ninguém gosta de ouvir é que a sua tão sonhada autenticidade é uma ficção construída a partir de reforços sociais, medos reprimidos e uma coleção de comportamentos aprendidos pra agradar, sobreviver e, na melhor das hipóteses, ser tolerado pelos outros. Não existe uma versão “pura” de você esperando pra ser descoberta num retiro espiritual de final de semana. Jean-Paul Sartre já tinha dado o recado: “O homem está condenado a ser livre.” Mas a galera do coaching preferiu ignorar a condenação e só vender a parte da liberdade. Porque é mais lucrativo fazer você acreditar que tudo se resume a um reencontro mágico com seu “eu interior”. Enquanto is...

Entre o porto e o abismo

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       Vivemos tempos em que a estabilidade foi transformada em ideal. Tudo gira em torno da busca por segurança: emocional, financeira, social. Mas como diria Heráclito, o movimento é a essência do ser. Aquilo que não se transforma, apodrece. E, no entanto, o ser humano moderno se agarra ao cais como se ali estivesse a promessa de salvação, ignorando que o porto é só o ponto de partida — não o destino.           O navio ancorado é metáfora da existência domesticada. Limpo, inteiro, imaculado — e inútil. Seu valor não está na aparência preservada, mas naquilo que é capaz de atravessar. O mesmo ocorre com o sujeito que evita o desconforto, as rupturas, o imprevisível. Como disse Nietzsche, “quem não quer afundar no mar da existência, também jamais beberá de suas profundezas”.         A sociedade contemporânea transformou o conforto em virtude. Conforto emocional, conforto moral, conforto intelectual. Mas toda virt...

Solitude: a rebeldia de quem não precisa de aplausos

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      Vivemos cercados. De gente, de vozes, de notificações. Mas nunca estivemos tão sós. A solidão, nesse cenário, não é um drama romântico, é uma epidemia silenciosa. E o mais curioso: não nasce da ausência, mas do excesso. Excesso de estímulo, de desejo, de superficialidade.      Você pode estar em meio a um banquete de afeto e ainda assim sentir fome. Pode colecionar seguidores, títulos, bens materiais, e ainda assim acordar com aquele vazio que não tem nome — mas que pesa como um corpo a mais deitado ao seu lado. Solidão, nesse caso, é a consequência do desejo mimado. A criança dentro de você queria tudo. Ganhou. Agora está entediada.      O problema não é estar só. O problema é estar consigo e não suportar a própria companhia. E isso diz mais sobre você do que sobre o mundo. A solidão que tanto se teme, muitas vezes, é o reflexo do vazio que se construiu com tanto afinco. Um palácio cheio de coisas e conversas vazias. Aliás, Schopenhaue...