A farsa da autenticidade: o Marketing de ser você mesmo

O mundo virou um grande balcão de autoajuda disfarçada de liberdade. Frases prontas, conselhos genéricos e gurus de internet repetindo o mantra mais batido da era da superficialidade: “Seja você mesmo.” Fácil falar, difícil explicar o que isso realmente significa. Mais difícil ainda é admitir que talvez você nem saiba quem é. A verdade que ninguém gosta de ouvir é que a sua tão sonhada autenticidade é uma ficção construída a partir de reforços sociais, medos reprimidos e uma coleção de comportamentos aprendidos pra agradar, sobreviver e, na melhor das hipóteses, ser tolerado pelos outros. Não existe uma versão “pura” de você esperando pra ser descoberta num retiro espiritual de final de semana.

Jean-Paul Sartre já tinha dado o recado: “O homem está condenado a ser livre.” Mas a galera do coaching preferiu ignorar a condenação e só vender a parte da liberdade. Porque é mais lucrativo fazer você acreditar que tudo se resume a um reencontro mágico com seu “eu interior”. Enquanto isso, você segue agindo como produto de um ambiente que te molda sem pedir licença. O mais irônico é que até a sua busca por autenticidade já virou uma performance. Você posta fotos espontâneas, faz textos emocionados, usa frases de efeito sobre liberdade… tudo isso pra parecer verdadeiro. E o mais patético: acredita nisso. A autenticidade virou uma estética. Uma embalagem bonita pra um conteúdo vazio.

Não é que você seja falso. O problema é acreditar que existe um “você” separado das contingências, das pressões, das recompensas invisíveis que te guiam o tempo todo. Cada decisão que você toma, cada opinião que você defende, cada pose que você faz… tudo é resultado de um ambiente que te recompensa por ser assim

Mas claro, admitir isso dói. É muito mais confortável continuar acreditando na fábula do “eu autêntico”, do “ser de essência única”, do “sou assim mesmo e ponto final”. Assim você não precisa encarar a responsabilidade de se reconstruir a cada contexto, a cada relação, a cada escolha

Então, da próxima vez que alguém te mandar “ser você mesmo”, devolva com outra pergunta: “Qual deles?” Porque, se for honesto, você sabe que já foi várias versões de si mesmo… e provavelmente vai continuar sendo.

E se quiser mais desconfortos filosóficos como esse, me acompanha nas outras redes: @Maycon.DeSouza 

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