Uma pessoa pode mudar a outra?


   
      Nas relações interpessoais, principalmente as de cunho afetivo, é natural que haja divergência de opiniões e comportamentos. É óbvio que ninguém é igual a ninguém (ainda bem) e é isso que torna a vida interessante, pois do contrário não haveria nada que pudéssemos aprender com o outro. O problema é quando estas diferenças são tão difíceis de lidar a ponto de prejudicar o outro envolvido na relação, seja emocionalmente ou, em casos extremos, fisicamente. Diante desta situação, será que é possível mudar o outro para que a relação se mantenha em níveis harmoniosos?

     A partir do momento em que as pessoas percebem o quão diferente “o outro” é delas, há uma sensação de incômodo e, em resposta a isso, passam a criticar e a tentar mudar o modo de pensar do outro. Em alguns casos, chegam até a mover mundos e fundos para fazer com que este indivíduo tenha dentro da própria cabeça uma cópia exata de seus pensamentos, ignorando totalmente o direito que o outro tem de exercer sua própria individualidade. Há algo mais insano do que isso?

     Toda mudança automaticamente implica abdicar de uma situação em detrimento de outra, ou seja, uma alternância de perspectiva. Os seres humanos possuem comportamentos completamente complexos, e estes causam uma burocracia quando há a necessidade de mudá-los, principalmente quando se trata de uma mudança radical que necessita de grandes esforços. Em função desta complexidade, por mais que se queira, é impossível que o indivíduo consiga mudar a si mesmo da noite para o dia. Se neste contexto a mudança de si é algo inviável, mudar outra pessoa é algo impossível.

     Apesar da complexidade inerente à personalidade de cada pessoa, há aqueles que estão perdidos, que não conseguem se enxergar no mundo e, por isso, são facilmente manipulados. Arrisco em dizer que estes estão acometidos por uma patologia de cunho psicológico e/ou até mesmo espiritual. São pessoas que não conseguem sustentar uma opinião por muito tempo, pois nem elas mesmas acreditam naquilo que tomou como verdade. Elas estão tão certas de que não sabem de nada a ponto de considerar como verdade tudo o que os outros lhe dizem, mesmo se este terceiro interlocutor for alguém totalmente desprovido de capacidade cognitiva, técnica e intelectual. Este tipo de pessoa que “aceita tudo” como verdade nem deve ser levado em consideração em relação à problemática deste texto.

     A mudança sempre será uma questão interna trazida do inconsciente com objetivo de mudar a realidade consciente; momento esse em que o indivíduo foi convencido por si mesmo da necessidade de alterar um padrão auto estabelecido. A maioria das pessoas possui grande dificuldade em promover mudanças, pois não conseguem fazer uma análise interna de si, ocasionando uma estagnação que as impede de dar um passo à frente. Ao contrário do que muitos pensam, é inútil todo e qualquer esforço que alguém faça com objetivo de mudar o outro. Cada indivíduo é o único responsável pela direção de sua própria vida. Dentro de sua cabeça há um oceano que alterna entre águas mansas e agitadas, composto por uma inconstância difícil de entender e prever.


Texto autoral de Maycon de Souza

Comentários

  1. No ciclo da vida mudamos o tempo todo, conforme as necessidades necessárias.

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