Política: de que lado você está?


          A política surgiu na Grécia antiga com o objetivo de organizar o funcionamento das cidades-estado e garantir com que os cidadãos tivessem seus direitos e deveres assegurados. Na época de seu surgimento, as discussões políticas eram embasadas por um senso crítico apurado, do qual cada indivíduo era livre para pensar por si.  

          Diferentemente de como é hoje, as decisões tomadas naquele contexto possuíam cunho filosófico e reflexivo, sem se prender a ideologias pré-concebidas. Com o passar do tempo, a política foi se modernizando até chegar aos moldes que hoje conhecemos. 

          É comum nos dias atuais ouvir discussões políticas em vários ambientes, muitas vezes movidas por uma irracional paixão ideológica que, por sua vez, cega os interlocutores e os impede de fazer uma reflexão crítica a respeito dos assuntos em voga. Essa paixão faz com que o indivíduo se prenda a uma bolha e passe a considerar como dogma o conjunto de ideias que o espectro político que ele defende prega. 

          Estas discussões são caracterizadas por um forte viés ideológico e fazem com que os envolvidos tomem para si rótulos pré-concebidos, sendo os mais comuns os tão falados “esquerda” e “direita”. Estes termos arcaicos surgiram na época da Revolução Francesa em 1789. Tal surgimento deve-se ao fato de os membros da Assembleia Nacional, simpatizantes com as ideias conservadoras do rei, sentarem-se à direita enquanto os que se opunham e defendiam a revolução à esquerda. 

          Com o passar do tempo, cada um dos espectros ganhou novas características e as pessoas começaram a se dividir conforme se identificavam com os ideais de cada lado. A partir daí, a polarização ganhou força, chegando ao ponto de tornar-se um campo de batalha, como é feito nos dias de hoje. Quem se beneficia e continua se beneficiando com essa divisão são os governos, partidos políticos e seus integrantes, pois os adeptos a tais rótulos passam a ser massa de manobra para que eles atinjam o poder e possam se perpetuar nele. 

          No Brasil, a democracia nos moldes atuais nos dá uma falsa sensação de liberdade, pois nela é permitido que qualquer um se candidate a qualquer cargo eletivo, tendo como pré-requisito somente a idade (que varia de acordo com cada cargo a ser votado) e não é observado as competências técnicas e a idoneidade do aspirante àquela função. Outro ponto falho na democracia é que o voto não é um direito, mas sim um dever. Todos os indivíduos acima de 18 anos são obrigados a votar sob pena de ter vários direitos suspensos caso não atenda essa coerção estatal. O mais agravante nesta situação é que a maioria dos indivíduos obrigados a cumprir esse dever não possuem a menor noção do que estão fazendo, não sabem como funciona o aparelhamento estatal e muito menos quais são as responsabilidades e as atribuições de cada cargo eletivo, ficando desta forma vulneráveis à manipulação dos políticos e seus respectivos partidos. 

          Dado a ignorância dos “eleitores” no atual contexto democrático, é comum cada vez mais haver brigas a fim de provar que a ideologia que defendem é melhor do que qualquer outra. Vencer esse “duelo” não tem nada a ver com lutar por um país melhor, mas sim em alimentar o próprio ego. A partir daí surgem os militantes e os chamados ativistas políticos. Estes são os peões no tabuleiro de xadrez, pois são manipulados o tempo inteiro pelos políticos adeptos às ideologias que defendem. Essa situação se agrava quando as eleições estão próximas, momento esse em que os peões se tornam cães raivosos, dispostos a qualquer coisa para defender seus donos e os ajudarem a alcançar ou manter a cadeira estatal que almejam. Isso é gravíssimo, pois faz desaparecer em suas mentes o fato de que todo funcionário público, cargos eletivos ou não, são nossos subordinados e nos devem satisfação, afinal, os cidadãos civis são a razão da existência do Estado, não o contrário. 

          Quanto mais ignorante é um povo, mais convicção ele tem sobre as causas que defende, afinal, o lugar onde a certeza nasce é o mesmo onde a evolução e o pensamento crítico morrem.  A polarização política, ou seja, a aquisição irracional de rótulos ideológicos, transforma as pessoas em massa de manobra dos parasitas estatais e dos aspirantes a sanguessuga do Estado. Enquanto o povo viver mergulhado na ilusão de que existem salvadores da pátria ou que a ideologia A ou B são soluções para as mazelas do país, continuaremos vivendo em profunda desgraça. É preciso entender que somente a liberdade de pensamento, senso crítico e libertar-se das amarras do Estado é que pode nos dar uma luz no fim do túnel. Somente assim poderemos evoluir enquanto indivíduos e nação. 

Texto autoral de Maycon de Souza

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