A pior forma de mendicância
O ser humano é um animal sociável por natureza; devido a essa característica ele nutre a necessidade de se viver em bando. Ao longo da história da humanidade, ele desenvolveu a capacidade de cooperação, que foi uma das qualidades responsáveis por permitir o avanço da sociedade em diversas áreas, principalmente no âmbito científico.
À medida em que as pessoas convivem umas com as outras, elas estabelecem uma conexão metafísica responsável por criar diversos sentimentos no âmago dos envolvidos, sejam eles similares ou antagônicos. Esses sentimentos preenchem uma lacuna primitiva responsável por permear suas ações. Dado a natureza humana, é comum e saudável (até certo ponto) que essas emoções aconteçam, salvo se forem sentimentos destrutivos, como por exemplo o ódio, a inveja e afins. O problema acontece verdadeiramente quando as emoções, ainda que positivas, deixam as pessoas dependente umas das outras, tornando-as subservientes ao que sentem.
Vivemos em tempos líquidos, com isso, tudo se tornou descartável - principalmente os relacionamentos - sejam eles românticos ou não. Devido a essa estranha condição que a humanidade se submeteu, as lacunas de carência afetiva foram se tornando cada vez maiores, chegando ao ponto de fazer com que o indivíduo busque meios para suprir tais necessidades, para que assim não seja sufocado por elas.
Psicologicamente falando, um sentimento quando reprimido tende mais cedo ou mais tarde a se manifestar intensamente, de forma consciente ou não, porém, de modo patológico. Com a necessidade de afeto não é diferente.
Aquele que está fragilizado pela falta de afeto e não consegue dominar seus próprios sentimentos tende a abrir mão de si mesmo para ser aceito pelos outros, ainda que isso represente abandonar seus próprios valores e princípios. Infelizmente essa é uma situação muito comum nos dias atuais e, além de preocupante, é gravíssima e degradante. Aqueles que “vendem” o seu próprio Eu em detrimento de agradar o outro para mantê-lo por perto, não está vivendo, apenas existindo. Para estes, cada dia que chega ao fim é, ao invés de um dia a mais vivido, um dia a menos.
Os mendigos de afeto estão espalhados aos montes por aí, dispostos a qualquer coisa para receberem as migalhas de carinho, atenção e amor. Estes sentimentos não deveriam jamais ser cobrados a alguém. Se não são espontâneos, não são verdadeiros. Quem está acometido por essa forma de mendicância deve urgentemente fazer uma reflexão sobre sua vida e lutar para mudar esse comportamento, pois do contrário, continuará sofrendo e sendo somente um ser desprezado em meio à multidão.
Livrar-se dessa situação é tão necessário quanto o ato de respirar. É preciso desenvolver o amor próprio em todas as arestas da sua vida e reconhecer que todos somos falhos. Necessário se faz uma autorreflexão sobre o que você sente por si e sobre o que se espera do outro. É impossível se sentir feliz e livre se você for emocionalmente dependente das outras pessoas, afinal, ninguém é obrigado a lhe dar um sentimento que nem você dá a si mesmo.
Texto autoral de Maycon de Souza
Eu como praticante de " mendigar afeto" reconheço quanto é necessário livrar dessa mania, que por sinal só gera frustrações. Parabéns pelo texto
ResponderExcluirRealmente é uma situação difícil, mas possível de ser corrigida.
ExcluirSociedade líquida (Zygmunt Bauman).
ResponderExcluirSem dúvidas Bauman foi bem cirúrgico ao abordar esse tema.
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