Se não controlar isso, você será controlado!


        Na vida, toda ação gera um resultado, seja ele positivo ou não. Através dessa implacável lei, é possível aprender valiosas lições que para nós, enquanto seres em evolução, nos são úteis. Todavia, nem tudo são flores, afinal, se há algo que a humanidade não consegue se libertar totalmente são de seus vícios.

        Quando fala-se em vícios, a primeira coisa que vem à cabeça da maioria das pessoas é a compulsão por drogas lícitas e ilícitas, a questão é que essas não são nem a ponta do iceberg dentro da numerosa lista de itens viciantes que podem perturbar a vida de um indivíduo.

        Os vícios são precedidos por alguma forma de dependência, que pode ser química, emocional, afetiva, material e psicológica, ambas com suas formas peculiares de se instalarem no organismo de uma pessoa. Por agirem de maneira sutil e algumas vezes subliminar, é comum que o envolvido não tenha consciência de que está viciado em algo, justamente pela recompensa temporária (em forma de rápidos prazeres) que essa prática ocasiona.

        Algumas pessoas nutrem um sentimento de negação ao vício quando não possuem dependência em nenhuma droga, apesar de estarem no auge da dependência em outras formas de compulsão. É de uma ingenuidade sem precedentes acreditar que os vícios são exclusividade de quem consome tóxicos, álcool ou cigarros. Nesse contexto, aqueles que se dizem libertos podem nutrir a servidão através de outras formas, como por exemplo estar dependente emocionalmente das opiniões alheias, do afeto de alguém que ama (como se o amor admitisse devaneios), do consumismo aos bens materiais e, por último, ao próprio ego, que por sua vez, é uma forma escancarada de estar psicologicamente viciado. Estar em um estado de compulsão por algo é não conseguir viver bem sem o objeto alvo do seu vício, é se lançar em uma condição de mal estar se não tiver a seu dispor aquilo que supra a necessidade viciosa.

        Quando alguém é viciado em algo, a compulsão não é pelos itens acima citados, mas sim pelo prazer proporcionado por estes. Em resumo, a prática viciosa é apenas um meio para se chegar a um fim, que são as sensações prazerosas. Partindo desse entendimento, é possível pensar em estratégias para se libertar dessa prisão, que nos torna cada vez mais subservientes.

        Uma prática que considero possuir potencial para ajudar a se libertar de tais comportamentos é a eliminação de gatilhos. Podemos enxergar os vícios, de modo geral, como hábitos; e como tal, precisam de estímulos para acontecerem. De acordo com o pesquisador Charles Duhigg no livro “O poder do hábito”, a “deixa” (que aqui chamo de gatilho) é responsável por enviar ao cérebro uma mensagem para que ele entre no piloto automático sempre que houver algum estímulo que leve o envolvido a replicar a rotina já criada de antemão. Essa rotina só é instaurada quando existem recompensas decorrentes dessa prática, que com o tempo torna-se um loop, um verdadeiro círculo vicioso que está o tempo todo sujeito a ser acionado.

        Por óbvio, não há uma receita de bolo que garanta a eliminação de uma compulsão. Como Duhigg sugere no livro, hábitos não podem ser deletados, mas sim editados. Eles já estão programados em nossa mente de modo sólido e consistente, por isso, entender a fundo o mecanismo dos hábitos que se deseja editar é fundamental para se livrar das formas de dependência.

        Uma outra alternativa que também considero responsiva neste aspecto é aceitar, de coração aberto, ajuda profissional. Muitos ainda têm a visão arcaica de que o profissional da saúde mental (psicólogos e psiquiatras) são especialistas que atendem somente pessoas loucas. Essa é uma ideia equivocada, pois o objetivo maior deles é fazer com que o paciente consiga lidar com seus dilemas existenciais. Todos nós possuímos problemas, porém, em proporções diferentes a depender da fase da vida que cada um está vivendo. Aceitar ajuda é uma das maiores demonstrações de amor próprio que se pode ter.

        Possuir comportamentos viciosos é algo natural do ser humano, mas nem tudo que é natural é saudável. É importante entender que eles sempre o acompanharão e que, por mais que seja impossível ter uma vida totalmente isenta deles, é necessário se mover para neutralizá-los. Não é mais feliz do que o outro, aquele que ostenta menos vícios, mas sim aquele que, independente da quantidade, consegue manter uma boa relação com eles.

Texto autoral de Maycon de Souza

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