O digital como cultura no pós pandemia
A espécie humana foi uma das poucas que conseguiu se manter viva nos últimos milênios, isso se deve a uma característica inerente à sua essência: a capacidade adaptativa. Ao longo das eras, a habilidade de adaptar-se ao meio foi a principal característica responsável por fazer com que a espécie superasse seus maiores desafios, em especial as doenças ocasionadas por vírus e similares.
Para criar um ambiente propício à evolução, a humanidade percebeu que manter-se em bandos tratava-se de uma forma eficaz de se proteger dos outros animais e das catástrofes naturais. À medida em que foi desenvolvendo suas habilidades cognitivas, a cura para várias doenças foi aos poucos sendo descoberta. Consequentemente, tal ação foi responsável por aumentar consideravelmente a expectativa de vida da espécie. Esse processo jamais seria possível se não fosse por meio da cooperação entre seus iguais.
Através desse aspecto cultural cooperativo, percebe-se que humanidade tende a se mobilizar em busca de soluções, principalmente quando se depara com algum problema que coloque em xeque a sua existência. Como exemplo disso, podemos citar a peste negra, gripe espanhola e, recentemente, a covid-19. Vale ressaltar que essa mobilização cultural não está voltada somente à criação de vacinas e/ou medicamentos, mas também em relação a não “paralisar a vida” enquanto o problema não é solucionado.
É sabido que vivemos na era da produção, momento esse em que os meios capitalistas – principais responsáveis pela evolução material que temos hoje – precisam de continuidade em seus processos para se manterem em atividade. Com base nisso, diversos mecanismos culturais foram alterados, o que em pouco tempo começou a ser chamado de “novo normal”. Nesse contexto, os meios digitais se apresentaram como uma alternativa essencial para manter as engrenagens do consumismo funcionando: o trabalho presencial foi substituído pelo home office; as compras de serviços e bens de consumo foram feitas majoritariamente de forma online; os encontros e conversas com amigos e familiares foram realizadas por meio de aplicativos de videochamada, dentre outras muitas mudanças que fizeram o analógico entrar em transição para o digital.
Esse “novo normal”, conforme citado nos exemplos acima, fez com que o mundo todo aderisse a tais comportamentos para impedir a disseminação do vírus. Apesar de terem sidos extremamente úteis no combate à pandemia, nem tudo são flores. O digital possui seu lado maléfico, que é fazer com que as pessoas acumulem excessos de informações que o cérebro não está preparado para receber, além de criar um ambiente propício ao sedentarismo, conexões humanas rasas, entre outros.
Mesmo com lados positivos e negativos, há uma forte tendência de que essa nova cultura se mantenha no cenário pós pandêmico, pois, no que tange as relações de consumo, o mundo virtual se mostrou altamente eficiente e capaz, podendo assim seguir em frente sem depender do analógico. A questão que fica em aberto é: qual é o limite do mundo digital que não interfira na salubridade mental dos seres humanos? É impossível obter de imediato uma resposta para essa pergunta, o que se pode ter certeza é que as coisas continuarão em um movimento cada vez mais acelerado sem muita preocupação com os colaterais de longo prazo.
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